Acaso Cultural
#9 | Cinema - O silêncio das ostras | Adeus a Dirceu Borboleta | Série - Industry
Abre-alas#9
No próximo domingo o Brasil volta às urnas, dessa vez para escolher prefeitos e vereadores. Ainda há muita água para rolar, mas, sem dúvida, trata-se da largada para a eleição presidencial de 2026. Entre as preocupações que devem estar entre as prioridades da agenda de políticas públicas para nossas cidades, precisamos estar cada vez mais atentos com a preservação do verde e do meio ambiente. É justamente este o mote de O silêncio das ostras, filme que estreia esta semana no Festival do Rio. Seu diretor, o documentarista Marcos Pimentel, teve uma conversa franca comigo, revelando os porquês que o levaram a este projeto e os caminhos que o fizeram aportar no território da ficção para contar esta história.
Completando o cardápio, a crítica da série Industry (HBO e Max) e a programação de outubro na sede da ACASO CULTURAL. Seguem abertas as inscrições para a nossa chamada de originais de tradução para obra acadêmica e literária.
E vamos ver se juntos a gente não chega onde quiser.
Boa leitura!
Alexis Parrott - Editor e redator ✅
Lama, suor e cinema
Entrevista com Marcos Pimentel, diretor do filme O silêncio das ostras

Após longa gestação iniciada em 2016, O silêncio das ostras estreia esta semana no Festival Internacional de Cinema do Rio. Selecionado para a mostra competitiva, o filme é o primeiro longa de ficção do premiado documentarista Marcos Pimentel e traz no elenco nomes como Barbara Colen (de Aquarius e Bacurau), Renato Novaes (detentor de três troféus candango de atuação, conquistados no Festival de Brasília) e Adyr Assumpção, figura marcante da cena teatral mineira. Não por acaso, a tríade participou também de Dia de reis, telefilme de 2018 e única incursão do cineasta no campo ficcional até então. Para o diretor, poder contar com a constância de uma equipe que “come poeira no campo” com ele traz uma cumplicidade que acaba impressa na cópia do filme.
Entre vários colaboradores assíduos, destacam-se a produtora Luana Melgaço, parceira há 18 anos, e o montador Ivan Morales Jr., com quem já trabalha há duas décadas. Na fotografia, a equipe contou dessa vez com outro cineasta, o cearense Petrus Cariry, amigo de longa data que “veio do documentário e está fazendo ficção também. Ele deu o salto primeiro”, segundo Pimentel.
O filme segue a trajetória de Kaylane (Barbara Colen), habitante de uma vila de trabalhadores que vive em função das operações de uma mina a céu aberto de minério de ferro. Exaurida a mineração, Kaylane e seu cachorro se tornam os únicos remanescentes do lugar, até que o rompimento de uma barragem os obriga a partir, guiados pelo rastro da destruição. Filmado durante 7 semanas em 2022, O silêncio das ostras fez da lama a matéria-prima para contar uma história extremamente brasileira. Além das dificuldades impostas pela temática, a equipe encarou até um surto de COVID entre seus membros.
Em entrevista exclusiva, Marcos Pimentel conversou com a ACASO sobre o processo de criação do filme, que denuncia a atuação criminosa das mineradoras e cuja trama ecoa tragédias como as de Mariana e Brumadinho.
Podemos começar com a questão mais óbvia: por que um documentarista respeitado e estabelecido decide fazer essa passagem para a ficção? Talvez a pergunta mesmo não seja nem ‘por que?’, mas ‘para que?’
Marcos Pimentel: Eu, enquanto mineiro, enquanto cidadão que nasceu e escolheu residir em Minas Gerais, senti que precisava falar dessa coisa tão espinhosa que é a mineração. Na origem, eu queria fazer um documentário para mostrar como é que as mineradoras acabam com a vida das pessoas. Só que nenhuma mineradora me permitiu entrar para fazer um documentário. Eu cheguei a fazer pedidos mas é tanta burocracia que colocam... Por motivos de relações públicas eles não podem negar de cara, mas aí você entra em um processo tão cruel de uma diretoria te passando para outra e ninguém querendo autorizar. Eles sabem que têm telhado de vidro e ninguém quer assumir a responsabilidade. Se eles nem me recebem, como é que vão permitir que alguém entre com uma câmera? A única forma que encontrei, inclusive para a preservar a minha integridade e a integridade da equipe, foi passar para a ficção.
Integridade física?
MP: Sim, porque são gangsters. Aí eu entendi que o único jeito era construir a minha própria mineradora na ficção para contar as histórias que eu queria. Eu já não acompanho mais os números, mas chegou um momento em que 18 cargos de chefia foram trocados no governo Zema [de Minas Gerais] para que a mineração pudesse continuar agindo como vemos hoje. Em Belo Horizonte você vê, dia a dia, a Serra do Curral desaparecendo e acaba parecendo normal que isso aconteça. É muito perigoso tudo isso que a gente vem vivendo e isso me toca profundamente. Então, não é que eu quisesse fazer um filme de ficção, eu queria falar de mineração. O mundo mudou tanto e o Brasil também, particularmente desde o golpe de 2016. Eu acho que não dá para não falar de algumas coisas.
Você disse que o mundo mudou, o Brasil mudou, mas e você? Quem acompanha o seu trabalho percebe que o discurso dos seus filmes está ficando cada vez mais político. Não que antes não fosse, o político sempre esteve lá, mas em primeiro plano se impunham questões existenciais. De uns tempos (e de uns filmes) para cá, houve uma inversão e o posicionamento político tomou a frente. Você concorda?
MP: Sim. Acho que teve uma ruptura gigante em 2016, foi um ponto de virada quando a gente viu que não dava mais para conviver harmonicamente com o inimigo. Nos últimos anos eu só fiz filmes como Fé e Fúria (2019), Pele (2021) e Amanhã (2024) - que são filmes muito diferentes dos que eu fazia antes - porque era esse outro momento do país, da nossa história enquanto sociedade. Mas no Silêncio das ostras, quanto mais eu mergulhava no tema, fui vendo que aquela história e as ideias que iam surgindo me possibilitavam fazer um apanhado que era muito pessoal também, porque dialogavam profundamente com todos os filmes que eu realizei antes, e de uma forma narrativa que me interessava bastante. Tem o circo d’O maior espetáculo da terra (2005) e o Dionísio, que é do Nada com ninguém (2003). A Kaylane pega o nome da menina do Fé e Fúria e a personalidade do Sanã (2013). A casa da menina e todos os objetos dentro, um trabalho incrível da diretora de arte Juliana Lobo, é todas as casas que a gente vê no Sopro (2013). É um misto de disposição e arrumação do Nada com ninguém, mas com a estética do Sopro. A gente nunca tem certeza exatamente, ainda mais sobre processos tão relacionados às subjetividades, mas eu acho que esse filme dá muito conta de representar o momento que estou vivendo hoje, que é buscar um equilíbrio entre política e poesia.
E como foi que os atores se encaixaram nessa equação? Seus filmes sempre foram sobre gente, até em um filme como o Pele, sobre arte urbana, as pessoas estão lá, mesmo que de maneira indireta. Você fazia de pessoas os seus personagens, mas agora você teve que lidar com esses ‘intermediários’, os atores. Como o documentarista lidou com este processo?
MP: Tem uma coisa que a Barbara [Colen] fala muito, de como o documentário me aproximou das pessoas e me preparou para filmar gente. Eu sempre construí junto com a pessoa uma história que era dela e dessa vez foi assim também, com os atores. Acho que isso contribuiu muito para que não ficasse uma coisa tão diferente em termos de dinâmica de trabalho. Acredito ainda que o curso de psicologia me ajudou bastante para desenvolver uma escuta fina e constante que faz com que me interesse por aquelas pessoas e os caminhos que juntos a gente vai descobrindo para construir alguma coisa. Seria comum de se esperar do primeiro longa de ficção de um documentarista que a linguagem fosse totalmente real, documental, mas eu evitei isso porque achava que não combinaria com aquela história. É um filme que se assumiu enquanto ficção muito cedo e que toda a construção dramatúrgica e narrativa foi desenvolvida a partir dessa decisão. Mas ainda assim, com toda a mise-en-scène bem desenhada através de várias visitas, ensaios e preparação nas locações, também era um filme que se permitia ser atravessado pelos improvisos e imprevistos que os lugares e o contato com aqueles lugares iam oferecendo. Algumas das cenas mais significativas do filme foram construídas com elementos que a gente encontrou na hora.
Onde você filmou?
MP: A maior parte do filme foi realizada na zona rural de Matipó, perto de Manhuaçu. A gente ambientou a vila toda lá, a cinco horas de Belo Horizonte. Precisamos rodar muito para encontrar um lugar que a gente não precisasse construir do zero, porque não tinha grana para isso. Achamos ali um lugar bem interessante, com uma vila e as ruínas de uma fazenda de café, como se estivessem presentes dois ciclos, o café e a mineração. Depois percorremos várias cidades relacionadas à rota da lama, então teve muita coisa feita próximo a Mariana e Bento Rodrigues e depois os trechos mais ligados aos crimes de Brumadinho.
Você fez uma ficção, mas os cenários eram documentais.
MP: Sim, isso mesmo. Tem essa mulher, a Kaylane, que não fala com ninguém, ficou completamente abandonada por décadas, nasceu e cresceu na mineração, só conhecia aquilo. Quando ela cresce e todo mundo arranca tudo que é possível daquele lugar, ela fica. Quando derruba a barragem e vem a lama é que ela precisa sair, porque não dá mais para viver ali. Então, pela primeira vez, ela vai para o mundo, nessa coisa distópica de lama, de achar que tudo é de lama, e encontra com algumas pessoas ao longo do caminho, e esse encontro é uma loucura. Ela entra em uma escola que foi derrubada pela lama e a escola foi mesmo derrubada pela lama, lá em Bento Rodrigues. A gente foi andando na beira do rio, lotado de lama ainda. Claro que a direção de arte sempre vai intervir, vai produzir um monte de elementos ali, mas os cenários são todos reais, e a história é construída com muita coisa que aconteceu mesmo. A aldeia indígena por onde ela passa é mesmo a dos Xukuru-Kariri, na beira do rio Paraopeba, que a Vale faz de tudo para expulsá-los, alegando que estão plantando hortas ali e, por isso, são um risco ambiental. Ouvir isso da boca da Vale é pesado.
Qual foi o maior desafio nas filmagens?
MP: Começamos a filmar sem COVID e até à metade das filmagens correu tudo bem mas um morador da vila decidiu comemorar o aniversário do neto para se despedir da gente e fez uma festa em que um dos convidados levou a COVID. Daí, a cada cinco dias, tombavam 5 ou 6 da equipe. Passados esses dias, esses voltavam e outros mais caíam de cama e foi assim até o final. Filmávamos com duas máscaras, almoçando sozinhos e indo direto para o quarto do hotel após o dia de trabalho. Foi muito pesado. Eu não peguei, e conseguimos completar. Mas eu dizia o tempo todo: se acontecer algo comigo e eu não puder continuar, a Ju [Juliana Lobo, diretora de arte] assume. Entre todos ali foi ela a que mais entendeu o filme que eu queria construir. Ela tem um histórico de reconstrução de coisas reais que fez muita diferença, e por isso eu a escolhi. Era meu papel equilibrar a convivência de todos os departamentos e abrir espaço para que todos tivessem o seu momento de destaque, mas a arte soube acompanhar as emoções que eu queria passar.
E quais são as expectativas para o lançamento no Festival do Rio?
MP: Começamos na melhor janela de exibição possível do país nesse momento, do lado de um monte de nomes que eu admiro bastante. Eu acho incrível estar nesse festival com essas pessoas, nessa mostra de longas de ficção que tem essa repercussão toda. Por mais que o Marcelo Gomes e o Lírio Ferreira já tenham feito documentário, é de forma bissexta, super esporádica. Então, eu estou entrando super leve, porque de todo mundo que está ali, eu sou o documentarista. Acho que a gente, toda a equipe, conseguiu se permitir uma experiência sem saber no que vai dar a partir de agora. Acho que também só foi assim porque eu não precisava fazer concessão nenhuma, porque eu não sei como trabalhar e mover um filme de ficção. Eu não sei o que me espera nesse universo novo, não sei qual expectativa as pessoas vão ter, o que elas vão sentir exatamente, o que a gente conseguiu imprimir e o que não. É tudo muito novo para mim, mas eu fiz exatamente o que a minha intuição pedia. (AP)✅
O silêncio das ostras:
lançamento no Festival Internacional de Cinema do Rio: sessão aberta ao público na terça-feira, 08 de outubro, às 13:30h, no Cine Odeon.
Para conferir:
Enquanto isso… em Sucupira

Após uma internação de 10 dias para a colocação de 3 stents no coração, na manhã da última sexta-feira, já em casa, o ator Emiliano Queiroz acordou, tomou banho e começou a se sentir mal. Se deitou no quarto e disse que estava morrendo. Chegou a ser levado de ambulância para o hospital, mas não resistiu a uma parada cardíaca e morreu, aos 88 anos, no Rio de Janeiro.
Natural de Aracati, no Vale do Jaguaribe cearense, Queiroz formou-se ator na primeira turma do curso de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Ceará, embora já frequentasse os palcos desde a adolescência. Remanescente dos pioneiros da nossa televisão, era daqueles profissionais completos, tendo atuado ao longo da carreira em diversas funções, diante e atrás das câmeras.
Se no teatro foi a primeira Geni da Ópera do Malandro (de Chico Buarque, em 1978) e o Veludo da montagem original de Navalha na carne (de Plínio Marcos, em 1967), na TV marcou época dando vida a personagens que roubavam a cena dos protagonistas - como o Juca Cipó da primeira versão de Irmãos coragem (1970) e o superprotetor Tio Biju, dono da Oficina Mecânica D’Artangnan, em Cambalacho (1986). Fará sempre parte do imaginário nacional graças à sua criação maior, o lepidopterólogo amador e chefe de gabinete do prefeito Odorico Paragassú, Dirceu Borboleta (ambos personagens de O Bem-amado, primeiro novela e depois seriado de Dias Gomes). Inseguro, covarde e fofoqueiro, Dirceu só escapou do desprezo do público pela humanidade com que habilmente Queiroz o moldou.
Sucupira hoje está mais triste porque perdeu um de seus filhos favoritos - e o Brasil, um de seus grandes talentos. (AP)✅
Agenda Acaso Cultural
Em outubro na sede da Acaso
(Eventos com entrada franca e serviço de bar disponível)
Dia 05 | sábado | 18 horas
Encontro do Coro da Ladeira - Regência de André Protássio
Dia 11 | sexta | 18:30 horas
Grupo vocal Quarta Aumentada - Regência de André Protássio
Dia 19 | sábado | 16 às 19 horas
RODA de CHORO por ACASO
com Fabio Nin (violão de 7 cordas); Bernardo Diniz (cavaquinho), Bidu Campeche (pandeiro/percussão) e convidados.
Dia 19 | sábado | 19:30 horas
DO QUE FALO QUANDO FALO de poesia (Ano II)
Entrada franca
Com a presença das poetas Estela Rosa e Taís Bravo.
(Curadoria de Daniel Massa e Gabriel González)
SABERES E FAZERES | Cursos e oficinas presenciais
SEMPRE ÀS TERÇAS | 10 às 12:30 horas
Curso de Bordado
com Maria Fernanda Carvalho
Aulas avulsas ou Pacote mensal
Outras informações:
acasocultural@gmail.com
A sede da Acaso Cultural fica em Botafogo, no Rio de Janeiro, em um casarão restaurado do início do século XX. Em breve, contará ainda com um anexo especialmente projetado para receber eventos variados – música, teatro, palestras, simpósios, congressos. É um espaço multiartístico completo, com hall de exposições, salas de aula, espaços para coworking, um ponto de venda de livros, revistas, discos, CDs, e outros objetos de arte e cultura relacionados ao acaso.
Venha nos conhecer, estamos na Rua Vicente de Sousa 16, Botafogo, Rio
Crítica - Série

Industry
A série dá aos bois o único nome que os bois podem ter e desnuda a crise ética contemporânea.
Todo país tem o seu próprio inferno. Na Inglaterra, está no coração da City londrina, entre as estações de Bank e Liverpool Street. A exemplo de Wall Street e da Faria Lima, ali latejam as veias daquela instância imaterial que procura determinar ações governamentais, modelos de consumo e até mesmo o que sonhamos: o mercado. (E já peço desculpas por incluir as palavras "coração" e "mercado" no mesmo parágrafo.)
Industry é uma série adulta que se destaca no meio da massa disforme de super-heróis, adaptações de podcasts sobre crimes reais, realities apelativos e imbecilidades sortidas que o streaming vem oferecendo aos borbotões. Ambientada nas entranhas do mercado financeiro, conta o dia a dia de vendedores; figuras que, a despeito de sua importância dentro das dinâmicas comerciais, representam uma categoria da força de trabalho que nada produz. Poderiam vender batatas mas, neste caso, vendem ações. Como dito por um dos personagens, trata-se de gente invisível que vende um produto invisível. Segundo a opinião do megainvestidor vivido por Jay Duplass (de Transparent) na segunda temporada, o único vendedor famoso é Willy Loman. Da perspectiva brasileira, talvez se possa engrossar a lista com Silvio Santos.
O cenário inóspito dos bastidores da operação financeira no fictício banco Pierpoint destrincha a atmosfera perniciosa dos ambientes corporativos. Clichês como "vestir a camisa" e "trabalho de equipe" significam apenas a concordância e submissão a regras tácitas de um vade mecum de comportamento e convivência não raro machista, preconceituoso e abusivo.
Até mesmo o influente gerente do setor de vendas de ações, Eric Tao (Ken Leung), executivo de ascendência asiática que vai de mentor a rival da protagonista Harper (Myha’la), rememora com amargura a única vez em que o primeiro chefe o elogiou, no início da carreira bem-sucedida: "Esse chinesinho nasceu para vender".
A crítica da série é a mesma proposta pela The Office original, porém, sem espaço para risadas. No ambiente de trabalho, sob pressão permanente, alternam-se constrangimento, revolta e depressão. Para aguentar o tranco, alienação, drogas e sexo são companheiros constantes fora do expediente, quando a happy hour não passa de eufemismo e cortina de fumaça para o desencanto.
O risco na areia que determina o limite de tudo é a ética. Mas o que vale mais? Desafiar a "cultura da firma" ou manter o emprego? Jogar o colega aos leões para salvar o pescoço e fechar um negócio ou se agarrar a um mínimo de integridade? Aliás, há preço para esta última? As relações pessoais e familiares parecem entrar no vai e vem das bolsas de valores e podem terminar o dia com a cotação positiva ou negativa, a depender da temperatura das circunstâncias e da cotação da solidariedade no período.
Utilizando de maneira hábil o noticiário econômico como pano de fundo, com elenco excepcional e dramaturgia matadora, a série dá aos bois o único nome que os bois podem ter, desnudando a crise ética contemporânea. Em Industry, tanto faz chamar o capitalismo de tardio, financeiro ou selvagem porque alcunha nenhuma é capaz de camuflar sua verdadeira natureza, cruel e letal.
Para a próxima temporada (já confirmada), prenuncia-se uma mudança de ares com a transferência de alguns dos personagens de Londres para os Estados Unidos. A se confirmar a nova ambientação na meca do neoliberalismo, podemos esperar uma escalada de proporções bíblicas das trapaças e ambições monetárias desses executivos, vendedores e operadores - filhos pródigos dos vendilhões do templo rumo ao dilúvio e ao apocalipse do vazio existencial. (AP)✅
Industry: três temporadas disponíveis na Max
Chamada de originais 2024
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Rápidas e rasteiras
O laudo médico falsificado por Pablo Marçal para prejudicar a imagem de Boulos é o capítulo mais baixo da campanha eleitoral paulistana. Porém, mais espantosa que a violência antiética do aventureiro Marçal, só a inanição dos tribunais eleitorais frente às mentiras e trapaças do candidato. Para ele, depois da cadeira, só a cadeia. (AP) ✅
Será lançado em breve no mercado inglês o livro de memórias de Hanif Kureishi, Shattered (Estilhaçado, em tradução literal). O volume é uma edição dos posts em redes sociais e na conta do substack que o escritor vem publicando para narrar o novo cotidiano após a lesão na coluna que o deixou paralisado, fruto de um acidente doméstico em dezembro de 2022. (Publicamos a história completa no segundo número da newsletter.) Ao receber o livro pronto das mãos de seu editor, o roteirista de Minha adorável lavanderia percebeu que
“É preciso muita gente para fazer um livro: o designer da capa, o gráfico, o editor, os amigos que vão lendo os trechos à medida que são escritos, inúmeros publicitários e jornalistas, bem como os livreiros, responsáveis pelo acesso do público. Todas essas pessoas acreditam nos livros como um bem inerente; acreditam que o pensar, a inteligência e a articulação são importantes para a democracia e para a qualidade de nossas vidas.”
Torçamos para que as nossas editoras corram com a tradução e lançamento do livro aqui no Brasil. (AP)✅