Abre-alas#5
Conseguimos! Mais um ano já vai terminando e, apesar das guerras, chegamos até aqui e temos que continuar - sem muito espaço para “plano B”. O caminho vamos traçando enquanto caminhamos, mas não há dúvida sobre o que guia cada um de nós. Por isso, na derradeira edição de 2023 de nossa newsletter, vale a pena dar uma conferida no que a Acaso realizou durante o ano. É sim uma forma de prestar contas, mas principalmente expressa a alegria de poder dividir essa história que vem sendo construída com dedicação e muita gente envolvida. Daí, é torcer para que os frutos já colhidos gerem outros frutos, e assim por diante.
No mesmo clima de encerramento de trabalhos, vamos em seguida com uma listinha com as melhores séries do ano. Chamo a atenção para o fato de que as duas selecionadas no topo do ranking ainda sejam produções inéditas no Brasil. Com as plataformas de streaming abarrotadas de tanta coisa inútil, ausências como estas servem para expor mais uma vez o descuido de curadoria com que são retribuídas as mensalidades de nossas assinaturas. A resolução de ano novo dos executivos de programação das plataformas poderia ser deixar de comer mosca.
Conforme o protocolo proposto pelo Farol Jornalismo, referência incontornável na galáxia brasileira das newsletters, os textos são assinados ao final com as iniciais do colaborador – assim, no meu caso a assinatura fica AP.
Obrigado pela companhia em 2023. Feliz passagem de ano, o desejo de um 2024 com mais paz e justiça, e vamos ver se juntos a gente não chega onde quiser.
Boa leitura!
Alexis Parrott - Editor ✅
O ano da Acaso Cultural - uma retrospectiva
2023 marcou o início das atividades presenciais na Acaso
O ano da Acaso cultural foi feito de muito trabalho, com cursos, a edição e lançamentos de livros, realização de eventos e inúmeros encontros - agora presenciais. Após uma primeira etapa de atividades desenvolvidas online, 2023 ficou marcado como o início da ocupação da nossa sede, uma vez concluída a reforma da casa que nos serve de chão, teto e inspiração. Como símbolo dessa ocupação, estiveram em exposição permanente no saguão principal da casa, durante todo o ano, telas dos artistas plásticos parceiros Beta Maya, POU e Paula Mermelstein Costa.
Criar e gerenciar a Acaso é um projeto de vida. Como a vida, tem alguns perrengues, alguns contratempos, algumas decepções, realizações e alegrias. 2023 foi um ano desses de enormes alegrias: ver a casa pronta, ver os projetos ganhando corpo - e casa -, ver as pessoas chegando e se animando, planejar 2024 e pensar os novos projetos, abrir as portas para as novas pessoas e construir as novas casas que vão se juntar a nós.
Catarina Amaral, Diretora Executiva
No dia 31 de março as portas se abriram ao público pela primeira vez com direito a lançamento duplo: Edgar Allan Poe, por Hélio do Soveral, tradução inédita da obra poética do autor estadunidense em volume organizado por Leonardo Nahoum, e Sonhos de vidro em sombras de concreto, coletânea de contos de ficção científica de Pedro Sasse. No campo editorial, ainda lançamos A net zero dream - a geração de energia elétrica tomando a cidade como base, organizado pela professora e pesquisadora de Arquitetura e Urbanismo da UFF, Louise Land B. Lomardo; e A fotografia e seus duplos, livro de ensaios em versão digital de Mauricio Lissovsky e fruto da parceria entre a Acaso e o IDEA - Programa de Estudos Avançados, grupo de pesquisa da ECO/UFRJ.
A casa, com toda sua elegância, parece exercer uma pressão silenciosa: é preciso estar à sua altura. O setor editorial traz ainda o desafio de trabalhar um produto que não anda em alta, concorrendo com gigantes do mercado. Mas a cada nova tiragem impressa, a cada casa cheia em lançamento, vem a satisfação que compensa as dificuldades e serve de combustível para que novos ciclos venham com ainda mais obstáculos e satisfação.
Pedro Sasse, Coordenador Editorial
No setor de cursos e workshops, o destaque ficou com a Masterclass de prosa literária, dividida em módulos conduzidos pelos autores Simone Campos, Marcio Markendof, Ana Rüsche e Oscar Nestarez. O ano também foi palco para a sequência do projeto Brasil em Jogo, ciclo de debates sobre o Brasil e nossa sociedade, após uma primeira fase realizada online em 2022. Discorrendo sobre os eixos temáticos Mídia, Religião, Meio-ambiente, Questão Agrária e Militares, recebemos pensadores de renome para discutir sob a luz da história e o calor do tempo presente os impasses, desafios e possibilidades que nos encaram neste momento decisivo de reconstrução nacional.
Cultura e política se fazem na pluralidade, na diversidade, no encontro. Queremos a Acaso abrigando diversas tribos, um espaço em constante transformação e também transformador, que nos permita ver a realidade com largueza e ousar pensar novos mundos, novas relações pessoais e sociais. Trocando o embate pelo debate, construir saberes acreditando que farão eco de alguma forma por aí.
Marcela Miller, Coordenadora de Saberes
Construída com fé genuína no espírito da união de forças, a Acaso é de todos e para todos e recebeu em 2023 vários eventos parceiros, como a série de encontros de poesia Do que falo quando falo. Além disso, promoveu uma chamada para seleção de Graphic Novel original e lançou campanhas de crowdfunding visando novas publicações. E teve música também, como a recente estreia da roda de samba do Súbito Samba, que promete voltar regularmente no ano que vem. Ufa!
Além de construir novas parcerias, abrimos nossos espaços para várias atividades com música, encontros e festas. O que não falta aqui é vontade de reunir pessoas e talentos, fazendo artes e estripulias! O ano de 24 promete!!
Alexandre Ramos, Coordenador de Artes
Promete sim, e há de cumprir. Após a conclusão das obras do espaço anexo projetado para apresentações, a Acaso verá ampliada sua capacidade de ação e a possibilidade de diversificar mais ainda as frentes de atuação. Enquanto o tempo corre, vamos tratando de botar a mão na massa para botar de pé este projeto de vida com artes e saberes, livros, músicas, parcerias e uma proposta de trabalho que possa gerar reflexão e transformação.
Depois de revisar as conquistas de 2023, são estes os planos da Acaso para o ano que vem. Vamos juntos? (AP) ✅
Outras informações:
acasocultural@gmail.com
A sede da Acaso Cultural fica em Botafogo, no Rio de Janeiro, em um casarão restaurado do início do século XX. Em breve, contará ainda com um anexo especialmente projetado para receber eventos variados – música, teatro, palestras, simpósios, congressos. É um espaço multiartístico completo, com hall de exposições, salas de aula, espaços para coworking, um ponto de venda de livros, revistas, discos, CDs, e outros objetos de arte e cultura relacionados ao acaso.
Venha nos conhecer, estamos na Rua Vicente de Sousa 16, Botafogo, Rio
As melhores séries de 2023
Sentindo 2024 já bater à porta e obedecendo a uma lei não escrita mas infalível, a imprensa tem por hábito dedicar as últimas semanas do ano às retrospectivas e às controversas listas de melhores issos e aquilos. Mas como produzir uma lista de melhores séries, se é certo que ninguém viu tudo? A pergunta que de fato interessa talvez não seja esta, mas sim "por que produzir tal lista?" O procedimento remete ao protagonista de Alta Fidelidade, livro de Nick Hornby e depois filme de Stephen Frears que, ao decupar o mundo em listas, criava para si mesmo a impressão de que exercia algum domínio sobre a própria vida desajustada.
A reprodução do mecanismo usado pelo personagem nessas indefectíveis listas de final de ano reflete uma tentativa (geralmente vã) de catalogar e organizar minimamente o tempo que passou e dar-lhe concretude. Problemáticas por princípio, guardarão sempre algo de lacunar, por mais abrangentes ou específicas que pretendam ser.
Na verdade, listas sempre dirão mais respeito ao momento histórico de quando são feitas, ao veículo que as publica e a quem as realiza do que ao assunto ou tema sobre o qual se debruçam. Com isso tudo em mente, lancei-me à tarefa anual de pinçar alguns destaques na vasta produção da ficção seriada televisiva do ano, mesmo sabendo que redundaria em uma seleção falha, por óbvio que não assisti a tudo que foi exibido – mas que crítico de araque seria eu, se fosse incapaz de oferecer aos leitores uma mísera lista de melhores séries? Bom, aí está ela.
Hijack (Apple TV+)
Em um misto de Duro de matar com Aeroporto (a franquia clássica do cinema catástrofe dos anos 1970), Idris Elba volta à carga após encerrar a série do detetive Luther e desistir de se tornar o primeiro ator negro a interpretar James Bond. Confinado em um avião sequestrado em pleno voo, tenta reverter a situação antes que o pior aconteça. Retrato do tempo que vivemos, o herói agora não é mais policial ou espião, mas um consultor corporativo contratado a peso de ouro para coordenar fusões e aquisições empresariais. A experiência de negociador será a chave para fazer com que os danos sejam os mínimos possíveis até que polícia e políticos consigam resolver, do solo, o imbróglio aéreo com chances de se tornar tragédia internacional. Thriller de ação mais que competente, cada episódio nos deixa com o coração na boca e termina levantando novas dúvidas que só serão explicadas na semana seguinte, recuperando um hábito da TV tradicional e enfiando com categoria uma estaca no coração do binge watching, que durante muito tempo foi regra majoritária no streaming, ditada pela Netflix.
Frasier (Paramount+)
Os encanadores da Casa Branca (HBO Max)
Sátira política impagável sobre os bastidores da trama autorizada por Nixon que resultou no escândalo do Hotel Watergate e iniciou o processo que culminou em sua renúncia à Presidência dos EUA. Woody Harrelson na pele do espião conservador e atrapalhado à frente do esquema é daquelas preciosidades humorísticas dignas de se sorver frame a frame. A naturalidade de sua abordagem é o contraponto perfeito para o histrionismo amalucado do comparsa de cena, Justin Theroux, vivendo um psicopata nostálgico do III Reich. O trunfo da minissérie está na permissão autoconcedida de realizadores estadunidenses de rir da própria história, para admitir e discutir as mazelas de seu passado. Sob este aspecto, assistir a Os encanadores da Casa Branca pode ser educativo no que contrasta com a solenidade monótona e laudatória com que a história brasileira é não raro tratada em nossas produções.
Cangaço novo (Amazon Prime) e Os outros (Globoplay)
Empatadas no ranking porque brasileiras e complementares. A partir da ambientação, trazem diferentes olhares (um rural e outro urbano) sobre dois problemas interconectados do país; um definido pelo excesso e outro pela falta: a violência e a segurança.
Em ambas, o elenco excepcional é o ás escondido na manga que todo autor gostaria de ter para dar vida a seus roteiros e quebrar a banca. Em Cangaço novo, tudo é de fazer brilhar os olhos, da prosódia aos silêncios, mesmo naqueles que são claramente não atores. Em Os Outros, porém, o furor com que foi aclamada a interpretação de Eduardo Sterblitch não resiste a uma investigação mais detida. No papel de chefe de milícia, sobressai a inexperiência de um comediante transfigurado em ator da noite para o dia. Quanto mais o personagem vai assumindo ares exagerados de psicopata (artifício desnecessário, diga-se de passagem), mais resta clara a falta de repertório do intérprete. O oposto é o trabalho de Milhem Cortaz, indo e vindo sem se perder nas contradições do machista chefe de família Wando. Ao lado da síndica mau caráter de Drica Moraes, é o grande destaque da série.
Mas é a construção da história de Os Outros sua maior fragilidade. Se o pressuposto de um condomínio é justamente a sujeição a uma existência sitiada em nome de um ideal de proteção, não se sustenta a contratação de uma “empresa de segurança” só depois da ocorrência de uma situação limite. Tal escolha dramática busca justificar a infiltração de uma milícia em ambiente de classe média, mas oferece à narrativa um fundamento artificial, além de deturpar o real funcionamento desse tipo de organização criminosa que age às claras em espaços abandonados pelo poder público. Já em Cangaço novo, a narrativa corre fluida e as peças do quebra-cabeça se encaixam com maior verossimilhança. Enquanto o messianismo alimenta o sentido de comunidade no seio de uma vida árida, a tragédia familiar bem urdida potencializa a violência gerada pela miséria. Em resumo, Os Outros é uma boa série, mas Cangaço novo é melhor.
Pagan Peak (HBO Max)
O mais eficiente entre todos os remakes da sueco-dinamarquesa Bron/Broen chega ao seu epílogo, cru e sombrio como nunca e rejeitando por completo o carimbo de feel good production. Indo na contracorrente da televisão atual, Der Pass (no original alemão) é uma das poucas séries que não se rende aos clichês e fórmulas clássicas da TV dos Estados Unidos, buscando identidade própria para navegar no gênero policial. Coprodução entre Áustria e Alemanha, se alimenta de pressupostos da cultura e da geopolítica da fronteira entre os dois países para desenvolver a narrativa. A nacionalidade aqui é um fardo existencial e não apenas um cenário exótico, como vêm delineando as grandes plataformas de streaming nas coproduções transnacionais, sobretudo com países da África e da América Latina, o Brasil aí incluído. Além disso, a série prova que boa adaptação é aquela que se posiciona perante a matriz e reinterpreta sua essência, devolvendo a literalidade para seu lugar devido: as mãos dos copistas medievais.
Slow Horses (Apple TV+)
Na direção oposta do megalômano Jack Ryan (que se dispõe a salvar o mundo livre ocidental entre o café da manhã e o almoço), os adoráveis espiões losers do MI-5 chegam à terceira temporada sem deixar cair a peteca. Sob o comando do imbatível e amarfanhado Jackson Lamb (Gary Oldman, em registro antológico) convivem diariamente com o fracasso: são perseguidos por inimigos e também por agentes de sua própria organização enquanto lutam por qualquer tipo de redenção disponível; quer seja na pilha dos arquivos mortos ou aceitando missões que ninguém mais quer. Costumam salvar o dia e, de quebra, a própria pele. Baseada nos livros da saga Slough house, de Mick Herron, e com duas temporadas anuais e ágeis, de apenas seis episódios sem encheção de linguiça, a série é uma divertida e bem arquitetada desglamourização do gênero da espionagem. Para assistir entre goles de dry martini - batido, não mexido.
Nada (Star+)
Succession (HBO Max)
Inspirada na trajetória infame de clãs do ramo da comunicação (como os Hearst e os Murdoch), Succession pode ser comparada a uma fábula. Saem de cena os castelos, reis e princesas para dar lugar ao império empresarial do mundo capitalista em que o verdadeiro poder estará nas mãos daquele que der a palavra final sobre tudo e todos. Desde a estreia em 2018 ecoou o elogio unânime de que se tratava de Shakespeare na televisão, o que não poderia ser mais impreciso. Para além da óbvia citação ao Rei Lear (o velho monarca que decide dividir o reino ainda em vida entre as três filhas, apenas para se arrepender depois), o desfecho surpreendente e desolador da última temporada veio confirmar a suspeita alimentada durante todo o seu percurso. A força motriz da narrativa não era Logan (Brian Cox) a manipular os filhos e nem as traições intrafamiliares, mas sim o destino fazendo de todos suas marionetes. Esqueça Shakespeare e pense em Atenas; não é preciso ser um oráculo para enxergar a saga da família Roy como um bem-sucedido revival da boa e velha tragédia grega.
The last of us (HBO Max)
Encimado pelo carisma de Bella Ramsey, velha conhecida de Game of Thrones, o ensemble de atores e atrizes funciona com a precisão de um relógio suíço. Pedro Pascal, antes de Almodóvar e finalmente livre do capacete mandaloriano que o mantinha incógnito, surge atormentado o suficiente e com predicados físicos ideais para se firmar em anos vindouros como um novo Charles Bronson. Mas é o timing da exibição seu trunfo maior. É impossível assistir à série e não fazer conexões com a realidade, após termos encarado a pandemia do coronavírus. A contaminação que transfigura os infectados em zumbis canibais é o tempero fantasioso usado no roteiro, mas o efeito prático de um cataclisma epidemiológico é algo que já havíamos sentido na pele. E o soldado que recebe ordens para atirar antes e perguntar depois, incapaz de diferenciar infectados de não infectados, é o mesmo que abre as portas para que os zumbis invadam o recinto e quebrem tudo, a depender da determinação de seus superiores militares ou da mensagem enviada no grupo de whatsapp (haja vista o que houve em Brasília, no fatídico 8 de janeiro passado). Parafraseando o velho ditado espanhol, Yo no creo en zombis pero que los hay, los hay.
Boiling point (BBC - inédita no Brasil)
A série que acompanha os bastidores estressantes de um restaurante em Londres cuja cozinha é pilotada por uma chef em ponto de ebulição (Vinette Robinson) é a continuação do longa-metragem homônimo de 2021, rodado em plano sequência e dirigido por Philip Barantini. Protagonista do longa, o personagem de Stephen Graham (o Al Capone de Boardwalk empire) volta como coadjuvante, purgando as escolhas erradas, o mau comportamento e se recuperando do baque sofrido no desfecho do filme. Evocativo, o primeiro episódio inicia com um plano sequência de 11 minutos para só então apresentar os créditos de abertura e deixar a narrativa fluir. Parece The Bear, a série estrelada por Jeremy Allen White no papel de um chef em ponto de ebulição que apresentou um episódio inteiro em plano sequência na primeira temporada. A verdade é que para existir, The Bear assistiu, se inspirou e copiou o filme Boiling point. Então, quando e se Boiling point estrear por aqui, prefira o original e não perca a chance de ver uma cozinha quase explodir de tensão a cada novo serviço. Sem os maneirismos e idealizações de The Bear, a série britânica nos deixa sem fôlego pela verdade de que se veste, tornando impossível deixarmos de nos identificar com seus personagens, lutando pela realização de seus sonhos e por alguma integridade. Três estrelas Michelin seriam insuficientes para avaliar um programa tão especial.
La Mesías (Movistar+ - inédita no Brasil)
A melhor série do ano (uma minissérie, na verdade) é outra que só veremos em 2024 aqui no Brasil. Depois de Paquita Salas e La Veneno, o duo espanhol Javier Ambrossi e Javier Calvo - Los Javis, como são chamados – se estabelecem como argutos cronistas da vida contemporânea. Alimentam-se da cultura pop para contar suas histórias e estabelecer uma via de mão dupla. Ao final do processo, são capazes de gerar novos ícones com potencial de influência comparável àqueles que serviram de ponto de partida. Inspirada no fenômeno viral do grupo de irmãs cantoras catalãs Flos Mariae, La Mesías articula uma denúncia do fanatismo religioso e suas consequências em várias esferas: social, cultural, familiar e existencial. Donos de um discurso político crítico e libertário, os Javis vão construindo uma obra baseada no carinho que dedicam aos marginais, aos loucos e a tudo considerado errado ou desviante. As escolhas temáticas e de estilo apontam para lições bem aprendidas da doutrina profana de Almodóvar, que idolatram como mestre. Aliás, segundo o próprio, a série representa o salto para a maturidade do casal de realizadores. Uma vez estabelecida a televisão como mídia preferencial, La Mesías desponta como mais uma etapa da missão assumida pela dupla de levar o meio para outras paragens, sempre longe do lugar comum. (AP) ✅
Rápidas e rasteiras
Para fugir da decisão óbvia de eleger como imagem do ano apenas uma das atrocidades cometidas por bolsonaristas em Brasília no dia 8 de janeiro, a newsletter procurou pautar sua escolha em outra faceta representativa do desvario em que se encontra o imaginário nacional. A imagem marcante da TV brasileira em 2023 é a constrangedora revelação da harmonização facial do ator Stenio Garcia no programa Fofocalizando. De uma só tacada o SBT provou o quão longe ainda está a televisão de um entretenimento mais sadio e, por antecipação, desmentiu o Oxford Dictionary e o Merriam-Webster, que nomearam como palavras do ano “rizz” (uma gíria para carisma) e “autenticidade”. Combinou apenas com a escolha do Cambridge Dictionary: “alucinação”. (AP) ✅
Não adianta quererem nos convencer de que um banco é “feito de futuro” ou “alguém que verdadeiramente acredita em você” e não apenas um mal necessário, daquelas inevitabilidades da vida moderna que nos custam muito caro. É no mínimo decepcionante assistir à campanha do centenário do Itaú e ver figuras de destaque das artes e dos esportes topando associar sua imagem a um tipo de instituição que, a rigor, oferece com uma mão para tirar com duas ali adiante. Para os próximos 100 anos, bom mesmo seria planejar um mundo menos desigual - e sem bancos. (AP) ✅
#prontofalei
Postado na comunidade Lego do Reddit ✅✅
A newsletter da Acaso é sempre um prazer. Muito bem feita, expressando um muito belo projeto. Esta está especialmente boa. O relato do feito cruzado com as falas de quem fez dão bem a impressão de que as coisas estão sempre começando de novo. Tem gosto de esperança. Parabéns a toda a equipe.